O Supremo Tribunal Federal (STF) recebeu uma ação em que Associação Brasileira de Restaurantes e Empresas de Entretenimento (Abrasel Nacional) pede a declaração de inconstitucionalidade de artigos da Lei 11.705, conhecida como Lei Seca, por estabelecer punições rigorosas aos motoristas que dirigem alcoolizados e proibir a venda de bebidas alcoólicas à beira das rodovias federais.
Ainda não há uma definição de quem será o relator, em virtude do recesso dos ministros em julho.
Segundo Abrasel, a nova lei “extrapolou os limites da razoabilidade” e admite punição desproporcional a motoristas que tenham consumido quantidade ínfima de álcool - multa de R$ 955,00, apreensão da carteira por um ano e do veículo do motorista que no teste do bafômetro apresentar dois decigramas de álcool por litro de sangue.
“No presente caso, punem-se os inocentes: o dono do negócio, os funcionários que serão demitidos, todos os demais passageiros que viajam, as pessoas que residem próximo da rodovia, para evitar o inevitável: o consumo de bebida alcoólica por motoristas irresponsáveis, que continuarão adquirindo-a a 100 metros da faixa de domínio da rodovia”, ressalta a entidade na ação.
Os comerciantes ainda sustentam que o maior número de acidentes com vítimas fatais ocorre em função da má conservação das rodovias federais e não do consumo de álcool.
Pelos Cálculos da Abrasel, se for mantida a nova legislação, a redução de vendas das cerca de um milhão de empresas que comercializam bebidas alcoólicas no país será de 30% a 50%, dependendo da característica de cada negócio.
Apesar das contestações, o ministro da Justiça, Tarso Genro, reiterou no dia 4 de julho que o governo não planeja fazer mudanças na lei que, segundo ele, protege o “bem da vida” e vai reduzir acidentes. Tarso admitiu apenas que haja uma tolerância pelos agentes de fiscalização em casos específicos.
PM de São Paulo detém 14 motoristas
A Polícia Militar de São Paulo deteve 14 motoristas por embriaguez ao volante na cidade de São Paulo, entre as 22h do dia 5 e as 3h30 do dia 6. Eles foram conduzidos às delegacias mais próximas das ocorrências. Foram abordadas 1.457 pessoas e 570 foram submetidas ao teste de bafômetro.
A legislação estabelece o limite de tolerância de 2 decigramas de álcool por litro de sangue do motorista - acima do qual ele pode ser preso, ter a carteira suspensa por um ano e o veículo apreendido, além de ser multado em R$ 955 . Acima de 6 decigramas por litro de sangue, a punição inclui a detenção do motorista de seis meses a três anos.
Redução de acidentes já é visível
Segundo pesquisa divulgada pelo Jornal Nacional, da Rede Globo, na edição de 4 de julho, em São Paulo, o atendimento a vítimas de acidentes de trânsito caiu, em média, até 19% nos fins de semana. Já em Porto Alegre, foi registrada queda de 37%.
Os médicos ouvidos pela reportagem da Globo notaram que havia menos chamadas de emergência e redução no número de pacientes. No pronto-socorro de Porto Alegre, um levantamento confirmou a suspeita: queda de 37% nos atendimentos.
No último fim de semana antes da lei, foram 105 vítimas. Quinze dias depois, o número baixou para 66. “Isso é uma economia de dinheiro e de sofrimento. Eu acho que é uma conquista bastante importante que a gente consiga reduzir estes acidentes”, afirmou o médico Luciano Eifler em entrvista ao JN.
Conforme divulgou o Jornal Nacional, da Rede Globo, os comandos policiais têm visado, principalmente, grupos de jovens. Eles são os que mais preocupam segundo uma pesquisa do psiquiatra Ronaldo Laranjeira, da Unifesp - Universidade Federal de São Paulo, com 6 mil motoristas em cinco cidades do Brasil.
De acordo com o levantamento, 31% dos motoristas dirigem alcoolizados nas noites de sexta-feira e sábado. Destes, 88,25% são homens, sendo que 77,9% solteiros. E, 79,5% têm idade inferior a 30 anos. “Essa é a população de risco, que acaba se acidentando e morrendo devido a beber e dirigir”, concluiu Laranjeira.
Fonte: Agência Brasil