A quadrilha desmantelada nesta quarta-feira pela Operação Tormenta da Polícia Federal tinha ramificação nacional e atuava há pelo menos 16 anos, fraudando, de forma sistêmica, os concursos públicos mais cobiçados do País. Entre os órgãos cobiçados estavam a Receita Federal e Polícia Federal, cujos salários chegam a R$ 20 mil mensais. Dependendo do nível salarial do concurso, o valor da prova variava de US$ 50 a US$ 150 mil (R$ 267 mil, na cotação desta quarta-feira).
Segundo o diretor da Diretoria de Inteligência da PF, Marcos David Sallem, e o delegado Victor Hugo Rodrigues Alves, chefe da Operação, a PF prendeu os 12 principais operadores da quadrilha, todos de São Paulo, entre os quais o chefe do esquema, um empresário, dono de uma universidade em São Paulo. Outro preso é um policial da Polícia Rodoviária Federal. Os nomes não foram divulgados, por ordem judicial. Todos foram levados para a Delegacia da PF em Santos, onde estão sendo ouvidos. Estão sendo cumpridos 34 mandados de busca e apreensão, sendo 21 na Grande São Paulo, 1 no Rio de Janeiro, 3 na região de Campinas e os demais na baixada santista, além de 12 mandados de prisão temporária. O primeiro concurso que a PF tem notícia de atuação da quadrilha foi da Receita Federal, realizado em 1994.
Investigações
As investigações, segundo a PF, começaram em 2009 durante um concurso para Agente da PF. A partir dele, a polícia descobriu que havia um quadrilha que conseguia acesso aos cadernos de questões antes da data de aplicação das provas. Além do próprio concurso da PF, o grupo teve acesso privilegiado às provas da 2ª fase do Exame da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), realizado neste ano, e do concurso da Receita Federal (Auditor-Fiscal/1994).
A PF afirma que, até o momento, sabe-se que 53 candidatos tiveram acesso à prova de Agente Federal; pelo menos 26 à prova da OAB e, outros 41, ao exame da Receita Federal.
Conforme a polícia, o grupo atuava em diversas frentes e realizava desde o aliciamento de pessoas que tinham acesso ao caderno de questões até o repasse de respostas por ponto eletrônico durante a realização do concurso e a indicação de uma terceira pessoa mais preparada para fazer a prova no lugar do candidato. Além disso, a quadrilha também é suspeita de falsificar diplomas quando o cliente não possuía a formação exigida.
Além dos concursos em que foram comprovadas as fraudes, dois outros (Abin e Anac) também serão investigados pela PF porque foram encontrados indícios de irregularidades praticadas pela quadrilha. A ação é realizada na Grande São Paulo, em Campinas, na Baixada Santista e no Rio de Janeiro.
A Polícia Federal afirma que a ousadia do grupo era tanta que, mesmo após a divulgação do vazamento da prova da OAB, a quadrilha se organizava para fraudar pelo menos outros seis concursos. São eles: Caixa Econômica Federal, Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), da Advocacia Geral da União (AGU), da Santa Casa de Santos, de Defensor Público da União e da Faculdade de Medicina de Ouro Preto.
Todos da quadrilha deverão ser indiciados por formação de quadrilha, quebra de sigilo funcional, estelionato, receptação e falsificação de documentos públicos.
(*com informações da Agência Estado)